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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Debatedores apontam entraves para a produção de medicamentos no Brasil

Em audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família, médicos e pesquisadores apontaram a burocracia, a falta de investimentos, a insegurança jurídica e a aversão a riscos como fatores da baixa produção científica e de inovação na área de medicamentos no País.
O médico e pesquisador Jorge Elias Kalill Filho, diretor do Instituto Butantan e professor de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apresentou dados que mostram um gargalo no setor.
“Não existe financiamento, o pesquisador não é valorizado, há excesso de burocracia e marcos regulatórios intrincados, poucas start-ups dispostas a desenvolver um produto e poucos cientistas na indústria”, resumiu.
Kalil apresentou dados que colocam o Brasil em posição secundária na produção científica mundial e, principalmente, no desenvolvimento de inovações.
Segundo ele, a indústria farmacêutica nacional, por exemplo, deu um salto nos últimos 15 anos, a partir da produção de produtos genéricos, mas isso não resultou em mais pesquisas. “A indústria farmacêutica não tem sido competente para fazer descobertas. Geralmente isso é feito nos meios acadêmicos. No Brasil, a indústria de remédios faz genéricos e cópias”, disse.
Outro problema apontado por ele é a falta de pesquisadores na indústria. “Houve um salto nos últimos 25 anos na produção científica brasileira, em termos de artigos. Mas a maioria dos pesquisadores está nas universidades e não na indústria, já que não existe a cultura da inovação e há uma aversão a riscos por parte das empresas”, ressaltou o médico.
Outro fator, segundo ele, é a falta de investimentos em pesquisa e marcos regulatórios intrincados, que burocratizam todos os esforços dos cientistas.
“O Brasil quase não tem patentes. O Japão tem 118 por milhão de habitantes. O Brasil tem 0,3. Aqui o sistema é burocrático e dificulta. A aprovação de estudos clínicos de medicamentos, na Coréia, é em 30 dias. No Brasil é 365 dias. Aqui, se um cientista quiser importar um material importante para pesquisa, precisa de 6 meses. Nos Estados Unidos, ele consegue no dia seguinte”, afirmou Kalil.
Fernando de Queiroz Cunha, professor da Universidade de São Paulo (USP) e consultor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi na mesma linha.
Segundo ele, a indústria brasileira não tem grupo de pesquisa e não tem interlocutores com os pesquisadores acadêmicos. Para Cunha, é preciso priorizar a pesquisa experimental para a produção de fármacos relevantes, que depende de financiamento, recursos humanos e presença de pesquisadores na indústria.
“Falta projeto bem estruturado entre Estado, universidades e setor produtivo. É preciso ter uma indústria química que produza insumos e agências reguladoras eficazes”, disse o professor
Reportagem - Antonio Vital 
Edição - Marcia Becker

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