Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Vários deputados se manifestaram no Conselho de Ética sobre o incidente entre os parlamentares
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar ouviu, nesta quarta-feira (9), testemunhos contrários e favoráveis de deputados acerca da representação oferecida pela Mesa Diretora da Câmara, que acusa Jean Wyllys de ferir o decoro parlamentar ao cuspir na direção do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). O episódio ocorreu no dia 17 de abril, durante a votação da admissibilidade do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Ele disse [em redes sociais] que cuspiu e voltaria a cuspir quantas vezes necessárias. Se fosse um ato impensado, ele não teria feito essas considerações”, afirmou Bolsonaro na reunião.
Segundo Bolsonaro, as desavenças dele contra Jean Wyllys são relativas a temas e posicionamentos, apenas. “Não estou aqui para punir o Jean Wyllys. Minha briga sempre foi no campo das ideias”, disse.

Corredor polonês
Porém, o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) afirmou que Jean Wyllys passou por um “verdadeiro corredor polonês” quando foi anunciar seu voto na sessão. “Quando Jean se dirigia para proferir seu voto, ele foi provocado com expressões como: ‘agora vai o que queima a rosca, agora vai a bichinha, agora vai a franguinha’. Essas expressões foram direcionadas ao deputado Jean pelo deputado Bolsonaro.”
Luiz Sérgio enfatizou que Jean Wyllys também foi alvo de cusparada durante a votação. “Ele [Jean Wyllys] cospe no deputado Jair Bolsonaro e leva um cuspe pelo deputado [Eduardo Bolsonaro (PSC-RJ)] filho de Jair Bolsonaro. É cuspe trocado”, disse.
O deputado Jair Bolsonaro disse que não fez nenhuma afirmação pejorativa contra Jean Wyllys. "Não existe qualquer fita em que eu tenha dirigido a palavra a Jean Wyllys além de ‘tchau querida’. Está na cara que é perseguição política. Eu peço renúncia do meu mandato se aparecer algo que eu tenha chamado ele disso ou daquilo.”
O advogado de defesa, César Britto, também questionou Bolsonaro se ele já não se referido a Wyllys de forma pejorativa. Bolsonaro reconheceu que usou palavras fora do padrão de diálogo normal entre parlamentares, mas como reação. “Sempre a provocação partiu dele. Qualquer coisa que acontece, tem 15 deputados com representação contra mim, por isso tenho 30 processos, desde 1991.”
Clima tenso
O deputado Marcus Vicente (PP-ES) disse que não viu discussão anterior entre os deputados. “Havia um clima muito tenso pelo que estava acontecendo. Eu não disse que ele estavam se dirigindo um ao outro. É quase impossível se detectar todos os movimentos”, afirmou Vicente aos integrantes do conselho.
Segundo o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), a expressão “tchau querida” teve origem na fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ex-presidente Dilma Rousseff, em conversa telefônica interceptada. “A expressão foi usada pelos parlamentares apoiadores do processo de impeachment e não se referia a um parlamentar em particular.”
Agressão
O deputado Glauber Braga (Psol-RJ) citou ocasiões, em 2015, em que Bolsonaro teria xingado Wyllys. “Vi o deputado Jair Bolsonaro, em comissão, [sentado] atrás de Jean Wyllys, fazendo todo tipo de agressão fora dos microfones para que prova contra si não existisse.”
Bolsonaro criticou Braga pelo que chamou de provocação. “Se houver algo contra mim, entre com representação no Conselho de Ética”, afirmou.
O último deputado a prestar esclarecimento, Covatti Filho (PP-RS), disse não ter ouvido nenhuma manifestação de Bolsonaro contra Wyllys. Ele ressaltou que só começou a prestar atenção na cena na hora do voto de Jean Wyllys.
O Conselho de Ética dará continuidade a depoimentos de testemunhas de defesa no dia 22. O relator do caso, deputado Ricardo Izar (PP-SP), tem 30 dias úteis para concluir as diligências e a instrução do processo.
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